sexta-feira, 26 de abril de 2019

SAÚDE SEXUAL FEMININA E AS DISFUNÇÕES SEXUAIS

A sexualidade é uma componente importante da vida de qualquer mulher. O seu corpo permite a obtenção de momentos de excitação e de prazer.
Para gozar de uma sexualidade plena, a mulher necessita de conhecer bem o seu corpo, possuir liberdade para expressar os seus desejos e ter uma boa saúde sexual.
Ao longo da vida, sobretudo devido a alterações hormonais, existem modificações no funcionamento do corpo da mulher. Importa conhecer bem estas diferenças e também os principais problemas. Neste texto conheça as principais alterações fisiológicas, as patologias mais comuns e as formas de tratamento.

Fase Fértil
Este período decorre desde a primeira menstruação da mulher (que ocorre geralmente por volta dos 12-13 anos) até à menopausa (que pode suceder pelos 45-55 anos). Caracteriza-se pela fase em que a mulher se encontra fértil, do ponto de vista reprodutivo, sendo marcada pela existência do ciclo menstrual. Trata-se de um conjunto de alterações ao nível dos ovários e do útero que preparam o corpo da mulher para gerar um novo ser. A regulação deste ciclo comporta um grande conjunto de alterações hormonais que afetam o bem-estar físico e psicológico da mulher, influenciando também a sua saúde sexual. 

Os estrogénios são um grupo de hormonas fundamental na saúde da mulher. Responsáveis pelas características físicas do sexo feminino, são produzidos nos ovários e cruciais na regulação do ciclo menstrual. O seu nível varia ao longo do ciclo: atingem um pico no meio e o seu valor mais baixo durante a menstruação. Para além das suas funções reprodutivas, esta hormona sexual tem um papel importante em todo o organismo, sendo que os níveis baixos de estrogénios podem provocar problemas como: menstruações mais curtas ou inexistentes, sensações súbitas de calor, alterações no sono, secura e diminuição do tónus da vagina, pele seca, diminuição da líbido, alterações de humor, entre muitas outras. Por outro lado, níveis exagerados de estrogénios podem também ser problemáticos, causando: ganho de peso, aumento ou diminuição do sangramento na menstruação, aumento dos sintomas da tensão pré-menstrual (TPM), fadiga, falta de líbido, ansiedade, depressão, entre outros. 

A progesterona é outra hormona muito importante a nível reprodutivo e na regulação do ciclo menstrual. Esta é responsável pelo desenvolvimento e manutenção do endométrio uterino, estrutura que recebe o embrião quando ocorre fecundação do óvulo. Quando os níveis de progesterona diminuem, dá-se o início da menstruação pela perda do endométrio. Assim, baixos níveis desta hormona têm consequências maioritariamente a nível do ciclo menstrual como: alterações na quantidade de sangue perdido durante a menstruação, períodos irregulares, dores abdominais durante a gravidez ou até mesmo abortos espontâneos.

A testosterona é a principal hormona sexual masculina, permitindo ao homem a produção de espermatozoides, a obtenção de ereções, líbido, a manutenção dos caracteres sexuais masculinos como barba, voz grave, entre outros. Contudo, na mulher esta hormona também tem funções importantes. Existe em quantidades substancialmente menores no organismo feminino, sendo produzida nos ovários e nas glândulas suprarrenais. Nas mulheres os níveis desta hormona influenciam a líbido e a excitabilidade sexual. Tem também um efeito de proteção cardíaca, manutenção da capacidade de memória, na manutenção e ganho de massa muscular, entre outras.

Menopausa
A menopausa é um processo biológico natural, caracterizado pelo fim das menstruações espontâneas. Ocorre em virtude da grande redução da atividade dos ovários que deixam de produzir, mensalmente, um óvulo. Marca o fim da fertilidade feminina e conduz a uma redução, mais ou menos, progressiva da produção de estrogénios, ficando a mulher exposta a um novo ambiente hormonal. A primeira manifestação desta fase da vida da mulher é o aparecimento de irregularidades menstruais que podem durar vários anos, culminando no desaparecimento da menstruação.  

A sintomatologia precoce da menopausa inclui sensações súbitas de calor e mudanças de humor. Com o passar do tempo e, consequentemente, com a diminuição progressiva da concentração de estrogénios no organismo, podem ocorrer alterações a nível: cerebral, cutâneo, articular, cardiovascular, ósseas e no peso. Estas alterações podem expressar-se pela presença de: dificuldades sexuais, secura vaginal, diminuição da líbido, aumento da TPM, períodos irregulares, depressão, tristeza, ansiedade, problemas urinários, maior risco de fraturas ósseas, maior risco de doença cardíaca, entre outras. 

O envelhecimento é significativamente regulado pela diminuição Hormona de Crescimento.
A ciência demonstra que, com a idade, os níveis desta hormona decrescem em todas as espécies até hoje estudadas. Em cada década, esses níveis caem 14% nos indivíduos entre os 21 e os 31 anos, de tal forma que, em condições normais de envelhecimento, ao atingirmos os 60 anos, a produção diária da hormona de crescimento cai para metade. Esta hormona tem enorme influência no nosso organismo, sendo que os baixos níveis desta estão associados ao aparecimento das mais diversas patologias.

Muitas mulheres têm líbido baixa ou dificuldades em atingir o orgasmo. Algumas delas não estão preocupadas com este tipo de problema mas para outras é algo que afeta o seu bem-estar. Se uma mulher se sente infeliz com alguma parte da sua vida sexual podemos dizer que estamos perante uma disfunção sexual feminina.

As disfunções sexuais femininas podem ser divididas em: Baixo desejo sexual (líbido), dificuldade em atingir a excitabilidade (lubrificação e relaxamento vaginais), dificuldade em atingir o orgasmo (clímax) e dor durante a relação sexual (dispareunia). Podem ocorrer mais do que um tipo de disfunção sexual, podendo ser temporárias ou duradouras ao longo da vida da mulher. Estas alterações são, normalmente, multifatoriais e afetam várias componentes da vida da mulher.

São muitas as causas das disfunções sexuais femininas, sendo fundamental uma avaliação
completa de forma a determinar qual a melhor abordagem terapêutica em cada caso. As causas gerais dizem respeito a patologias como diabetes, doenças cardíacas, artrite, esclerose múltipla, consumo frequente de álcool. A medicação utilizada para: a hipertensão, a depressão, a dor crónica ou a contraceção, é outra causa comum. As patologias ginecológicas como a endometriose, dor pélvica crónica, problemas no pavimento pélvico ou até mesmo cirurgias pélvicas ou genitais que envolvam lesões vasculares ou nervosas são outra frequente causa. 

Como vimos anteriormente os déficits hormonais originam muitas alterações na mulher, incluindo problemas do foro sexual. Os baixos níveis de estrogénios comuns na menopausa e em situações de mau funcionamento do ovário originam secura vaginal e dor durante o coito. A dimensão emocional e psicológica tem de ser tida em conta nestas disfunções sexuais. Estas podem ser a outra origem destas patologias ou, muito frequentemente, ser mais uma consequência das mesmas. Distúrbios de origem mental como o stress, ansiedade, depressão, distúrbios alimentares, abusos passados, medo de engravidar poderão estar presentes. Problemas na relação do casal ou crenças religiosas e culturais interferem, habitualmente, na vida sexual da mulher.

Tratamento
Para a definição de um tratamento adequado é fundamental uma avaliação cuidada dos sinais, sintomas e da forma como a mulher lida com o problema. Só assim, é possível determinar quais as terapêuticas mais indicadas e obter sucesso na restauração da plena saúde sexual feminina. Apresentamos de seguida algumas das formas de tratamento que devem ser consideras. 

Um dos primeiros passos a tomar é conversar com o parceiro sobre o problema. A comunicação pode ser uma forma eficaz de ambos ultrapassarem a questão, diminuindo a ansiedade, vergonha e stress associados. Outra etapa fundamental é a manutenção de um estilo de vida saudável. Manter ou atingir um peso corporal saudável, ter uma alimentação equilibrada e adequada, praticar exercício físico, eliminar hábitos nefastos como tabagismo e ingestão de bebidas alcoólicas, dormir bem (boa qualidade do sono e quantidade de horas suficiente), aumentam a sensação de bem-estar e a disponibilidade para as relações sexuais. 

Como já abordado, ao longo da vida da mulher existem grandes variações do perfil hormonal. Assim, a utilização de uma terapia de otimização hormonal pode revelar-se de grande importância depois de realizada uma avaliação dos níveis hormonais atuais. Depois da menopausa a utilização de estrogénios pode contribuir para o aumento da lubrificação vaginal e consequentemente da redução da dor durante o coito. Estes podem ser administrados de forma local (vagina) ou em todo o organismo (sistémico), através de implantes, cremes, pensos, ou via oral. A administração sistémica, para além de trazer os benefícios ao nível da saúde sexual permite obter a proteção de patologias associadas ao baixo nível de estrogénios. A testosterona, como já vimos, poderá também ser utilizada de forma a aumentar a líbido nas mulheres, ajudar a manter a composição corporal saudável (massa magra x massa gorda), bem como manter o tónus muscular quer do sistema musculoesquelético, quer da musculatura pélvica. A hormona do crescimento é um complemento na prevenção e tratamento destas disfunções, pelo efeito essencial que desempenha no organismo.

A terapia laser de baixa intensidade confere energia adicional e localizada, com efeitos benéficos a nível celular, fundamentais para readquirir o equilíbrio em situações em que o objetivo seja prevenir ou tratar doenças. Através da fotoativação celular que provoca, verificam-se os seguintes efeitos: melhoria da microcirculação sanguínea e linfática; ação reparadora e regeneradora dos tecidos; melhoria do sistema imunitário; aumento da síntese proteica e da atividade enzimática, entre outras. Assim, obtém-se um efeito protetor em diversos tecidos corporais, prevenindo e tratando várias patologias como as disfunções sexuais.


É possível contornar a sintomatologia das variadas alterações hormonais ao longo da vida da mulher, tal como, colmatar as diversas formas de disfunções sexuais e outras patologias como a depressão, por exemplo, com uma terapia de otimização hormonal.




Jean Gonçalves
Fisioterapeuta
jean.goncalves@clinicadopoder.pt 


Referências:
  1. Mernone L, Fiacco S, Ehlert U. Psychobiological Factors of Sexual Functioning in Aging Women - Findings From the Women40+ Healthy Aging Study. Front Psychol. 2019 Mar 13;10:546.
  2. Hormone Health Network. Endocrine Society. Consultado em março 2019 em https://www.hormone.org/hormones-and-health
  3. Antunes S, Marcelino O, Aguiar T. Fisiopatologia da menopausa. Rev Port Clin Geral 2003;19:353-7
  4. Sturde, D.W. The facts of gormone therapy for menopausal women. London. N.Y. Washington. 2004. P. 102


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