segunda-feira, 15 de maio de 2017

DESVENDAR O CAMINHO DO ADN

Pelo facto de estarmos expostos à alimentação ao longo de toda nossa vida, desde a fase intra-uterina, há particular interesse em saber como se dá a interação entre nutrientes e compostos bioativos de alimentos com o genoma e qual o seu impacto na saúde. A estreita relação entre a nutrição e a medicina têm raízes tão antigas quanto o século IV a.C, quando Hipócrates sugeriu que a nutrição balanceada poderia ser uma alternativa válida à medicina para manter a boa saúde.

A aplicação de tecnologias moleculares às ciências nutricionais nos últimos 40 anos levou ao reconhecimento de que alguns nutrientes e componentes bioativos dos alimentos podem regular a expressão de genes específicos, tanto na transcrição como a nível pós-transcrição de ADN. Daí que, rompendo a visão da nutrição clássica, a Nutrigenética e Nutrigenómica abre novas perspectivas quanto à nutrição. A nutrição já não é "apenas um meio de alimentar a nossa máquina", mas sim algo muito mais complexo e profundamente interrelacionado com as características genéticas específicas de cada organismo vivo.

A Nutrigenética estuda a influência da variabilidade genética entre os indivíduos, a qual é responsável pelas diferenças no estado de saúde e no risco de doenças.

A Nutrigenómica estuda a forma como as interacções entre componentes da alimentação e o genoma afetam o padrão de expressão génica.


A partir dos dados da sequência de ADN humano, constatou-se que, apesar das profundas diferenças existentes entre os indivíduos quanto aos seus fenótipos, como a côr da pele, tipo de cabelo, peso e altura, os seus genomas apresentam similaridade em cerca de 99,9%. A pequena variação interindividual de 0,1% dá-se, principalmente, por meio de alterações discretas na sequência do ADN conhecidas como Polimorfismos de Nucleotídeo Único (SNP- Single Nucleotide Polymorphysms, pronunciam-se “snips”), que existem aos milhões no genoma humano. Muitas vezes, os SNPs podem levar a mudanças na estrutura, função, quantidade ou localização das proteínas codificadas, e alteram inúmeros processos fisiológicos. Além de interferirem em características físicas, os SNPs também podem influenciar o risco para doenças crónicas não-transmissíveis, necessidades nutricionais e resposta aos alimentos.

Pela avaliação da expressão ou silenciamento de determinados genes e respetivas enzimas, pode perceber-se qual o metabolismo afetado, onde está a maior fragilidade e posteriormente adequar os elementos nutricionais de forma a prevenir a doença ou eliminar sintomas.


3 FACTOS SOBRE A NUTRIGENÓMICA:

• PERFIS ALIMENTARES ESPECÍFICOS PODEM MODULAR O DELICADO EQUILÍBRIO ENTRE SAÚDE E DOENÇA, ATUANDO, DIRETA OU INDIRETAMENTE NA EXPRESSÃO GÉNICA.

• A COMPOSIÇÃO GENÉTICA INDIVIDUAL, OU SEJA, A PRESENÇA DE POLIMORFISMOS EM GENES REGULADOS POR NUTRIENTES, AFETA INDIVÍDUOS E POTENCIA OU NÃO RISCO DE DOENÇA.

• DIETAS PERSONALIZADAS, QUE LEVAM EM CONTA O GENÓTIPO INDIVIDUAL REPRESENTAM O OBJETIVO FINAL DE NUTRIGENÓMICA.


NUTRIGENÓMICA E A OBESIDADE

Estudos de restrição energética e modificações alimentares em indivíduos com excesso de peso e obesidade têm fornecido evidências de como os nutrientes afetam a expressão génica. Tem sido demonstrado que quando estes indivíduos fazem alterações alimentares, genes envolvidos com o metabolismo lipídico, glicídico, inflamação e stresse oxidativo apresentam redução de expressão (down regulation), promovendo o equilíbrio do peso ponderal.


NUTRIGENÓMICA E DESINTOXICAÇÃO HEPÁTICA

A expressão génica do gene CYPA1 mostra-se essencial para, a nível hepático, desintoxicar o organismo de substâncias pro-carcinogénicas, muitas vezes que são etiologia de vários cancros como de mama, próstata e gastro-intestinais. Perceber como pela alimentação pode ajudar a formação de enzimas neutralizadoras e ajudar a desintoxicação é um bónus para manter qualidade funcional orgânica do fígado e outros órgãos essenciais.

NUTRIGENÓMICA E A ALZHEIMER


A Apolipoproteína E tem uma multifuncionalidade no metabolismo lipoproteíco e é essencial para o catabolismo de constituintes lipoproteícos ricos em triglicéridos como os presentes no cérebro. Aposta detetada alguma disfunção das Apolipoproteínas, diretamente associada à incidência a Alzheimer, torna-se primordial saber como prevenir de forma específica essa incidência patológica.


Nutrição
ines.pereira@clinicadopoder.pt

segunda-feira, 8 de maio de 2017

COMO PODEMOS PROTEGER O NOSSO ADN PARA VIVER MAIS ANOS COM QUALIDADE?

Fatores ambientais, alimentares e de estilo de vida estão intimamente relacionados com alterações genéticas e epigenéticas que vão influenciar o nosso processo de envelhecimento ou manutenção de poder funcional, juventude e qualidade de vida.

METILAÇÃO DE ADN

Estudos até à data sugerem que certos componentes alimentares podem alterar os níveis de metilação do ADN genómico e consequentemente alterar genes específicos em tecidos sistémicos e/ou localizados, afetando a estabilidade genómica e até afetar a transcrição de supressores tumorais e oncogenes.

A metilação de ADN é uma ferramenta de sinalização epigenética comum que as células utilizam para bloquear genes na posição "off". Nas últimas décadas, os investigadores têm aprendido muito sobre a metilação do ADN, incluindo a forma como ela ocorre e onde, também descobriram que a metilação é um componente importante em inúmeros processos celulares, incluindo o desenvolvimento embrionário, inativação do cromossoma X e preservação da estabilidade cromossómica. Tendo em conta os vários processos em que a metilação desempenha um papel chave, percebe-se a associação de consequências devastadoras dos erros na metilação - Desenvolvimento de Patologias humanas.

O efeito que o consumo alimentar e o estilo de vida tem sobre a metilação do ADN pode ser exacerbado por variantes comuns de predisposição genética, agentes cancerígenos ambientais e agentes infecciosos, um tópico que permanece em extenso estudo científico. Além disso, a crescente literatura apoia que as condições ambientais durante períodos críticos de desenvolvimento humano podem influenciar o risco a distúrbios metabólicos, em parte, através de uma programação persistente de metilação do ADN.

ALIMENTAÇÃO

Existem inúmeros dados de apoio científico quanto à importância dos Folatos (encontrados principalmente nas crucíferas) como fatores nutricionais fundamentais no metabolismo de metilação do ADN. Outros componentes de alimentos bioactivos incluem – Polifenóis, Flavonóides, Fitoestrogénios e o Licopeno.

A Dra Berit Johansen, professora de biologia na NTNU (Norwegian University of Science and Technology) diz que ‘uma alimentação diária com o consumo de 65% de Hidratos de carbono, faz com que uma série de classes de genes “trabalhe horas extras”’, isso afeta não só os genes que causam a inflamação no corpo, mas também genes associados ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, alguns tipos de cancro, demência e diabetes tipo 2 – todas as doenças relacionadas com o ‘estilo de vida’.

A alimentação é a chave para controlar a suscetibilidade genética individual para a doença. Ao escolher o que comemos, escolhemos se vamos oferecer aos nossos genes ‘armas’ para nos proteger ou para causar a doença. O sistema imunológico funciona como se fosse uma autoridade de ordenação e fiscalização do corpo. Quando consumimos muitos hidratos de carbono o corpo é ativado para reagir, o sistema imunológico mobiliza as suas forças, como se o corpo estivesse a ser invadido por bactérias ou vírus.

Os genes respondem muito bem ao alimento que lhe é fornecido para trabalhar. Quanto aos açúcares, o importante não é apenas a regulação da glicemia, a chave está no papel secundário de insulina, como hormona indutora a uma série de outros mecanismos. Uma alimentação saudável está maioritariamente associada ao consumo de certos tipos de alimentos que minimizam a necessidade do corpo para segregar insulina.

A secreção de insulina é um mecanismo de defesa em resposta ao excesso de glicose no sangue, independentemente da fonte de açúcar, ou seja, sejam açúcares adicionados, amidos (batatas, pão branco, arroz, etc.), álcool, frutas, etc...

Para manter um ambiente ótimo para a estrutura dos genes o equilíbrio é a perfeição, logo o ideal não é cair na armadilha de excesso de gordura/proteína. Esta condição pode tornar-se noutra armadilha semelhante ao excesso de açúcares. Necessita-se de um equilíbrio certo, em cada refeição com alguns hidratos de carbono complexos e de qualidade e não apenas uma ou duas refeições exageradamente grandes ricas em açúcar, proteína e gordura. O equilíbrio entre quantidade e qualidade dos macronutrientes e micronutrientes é a receita para manter os genes inflamatórios, e outros que potenciam a doença, sob controlo e para manter todas as funções celulares adequadas e com vitalidade.

Estudos têm mostrado resultados interessantes na redução da atividade genética nefasta, precisamente nalguns genes associados a doenças cardiovasculares e nos chamados “genes da juventude”. Estes foram regulados negativamente em resposta a uma alimentação equilibrada, em oposição a uma alimentação rica em hidratos de carbono.

EXERCÍCIO FÍSICO

Alguns dados também relacionam uma ligação entre a metilação do ADN com atividade física e equilíbrio energético. O exercício físico é uma das fontes mais poderosas para alterar beneficamente os genes. Além dos imensos  benefícios para o sistema motor do corpo, o exercício aeróbio não só ativa os genes ligados à longevidade como também ativa o gene que codifica o BDNF (do inglês Brain-derived neurotrophic factor=Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro), a “hormonas de crescimento” do cérebro. O exercício físico parece re -construir um cérebro que resiste à atrofia cerebral e aumenta a flexibilidade cognitiva, protegendo assim o ADN e potenciar a qualidade e a longevidade dos dias.



CARCINOGÉNESE

Um mecanismo comum para carcinogénese é dano no ADN, e portanto, é bastante possível que agentes ambientais mutagénicos possam promover a formação de aductos de ADN (ou formas alteradas da estrutura de ADN e consequente estas formas que incentivam à alteração funcional da célula). Com base em estudos epidemiológicos, a alimentação e o fumo são as principais causas de cancro humano. Para prevenir o cancro e a degeneração celular, é importante identificar quais agentes lesivos/mutagênicos e procurar evitar a sua exposição quer direta quer indireta.

Os números não mentem, está na mão de cada indivíduo adoptar as medidas preventivas adequadas para um estilo de vida mais saudável, proteger o ADN e manter o Poder Sexual, Juventude e Qualidade de vida!

Fontes:

  • Kasai (2016) What causes human cancer? Approaches from the chemistry of DNA damage. Genes and Environment 38:19
  • Lim U1, Song MA. Dietary and lifestyle factors of DNA methylation. Methods Mol Biol. 2012;863:359-76.
  • Perlmutter, D., Loberg, K. (2013) Cérebro de Farinha. Nova Iorque, Lua de papel
  • Phillips, T. (2008) The role of methylation in gene expression. Nature Education 1(1):116
  • The Norwegian University of Science and Technology (NTNU). "Feed your genes: How our genes respond to the foods we eat." ScienceDaily. ScienceDaily, 20 September 2011. <www.sciencedaily.com/releases/2011/09/110919073845.htm>



Nutrição
ines.pereira@clinicadopoder.pt