terça-feira, 20 de agosto de 2019

O QUE ACONTECE QUANDO DEIXA DE FAZER SEXO

A abstinência sexual consiste na prática voluntária ou involuntária de abster-se de
algumas ou de todas as dimensões da atividade sexual. Esta abstinência da expressão física do desejo sexual pode ser resultado de doutrinas, preconceitos, opiniões ou filosofias. Atualmente surgem novos motivos que levam a uma vida sexual menos intensa: muitas horas de trabalho, viagens frequentes, vida social intensa, vida familiar intensa, entre muitos outros… Resumidamente tudo o que impeça de estar com a/o sua/seu parceira/o a sós ou o que lhe retire energia ou disposição para a atividade sexual..


Na busca por viver mais tempo e com maior qualidade de vida muitos procuram hoje ter um estilo de vida mais saudável, dedicando tempo (muitas horas por semana em algumas situações) a uma alimentação saudável ou à prática de exercício físico. Mas será isto suficiente?

Muitas vezes o sexo é visto como algo acessório, sendo apenas praticado quando existe desejo, tempo e disposição para tal. Com a agitação quotidiana cada vez se torna mais difícil reunir estas condições. A verdade é que a atividade sexual é uma necessidade fisiológica básica, segundo Maslow, a par da comida, água, respiração, sono, homeostase e excreção. 

Segundo este modelo psicológico acerca das necessidades humanas, só depois de satisfeitas as necessidades fisiológicas, como o sexo, procuramos satisfazer outras no plano da segurança, relacionamento, estima e finalmente realização pessoal.  Mas não só a nível psicológico se podem verificar problemas. De seguida apresentamos várias alterações que podemos sentir quando deixamos de fazer sexo:

  • Ansiedade e stress
A falta de prática sexual poderá ter consequências negativas na capacidade de lidar com situações de stress. Um estudo concluiu que as pessoas que, durante um período de 2 semanas, tiveram algum tipo de relação sexual apresentavam menores índices de stress e ansiedade (ex: tensão arterial mais baixa) do que outras sem este comportamento. Esta menor reação às situações de stress também se verificou em indivíduos que praticaram masturbação, ainda que em menor amplitude.  A justificação para esta relação reside no facto de, durante o sexo, o cérebro libertar substâncias químicas indutoras do bem-estar tais como as endorfinas e a oxitocina
  • Diminuição da imunidade
A abstinência sexual reduz a exposição a germes e diminui a probabilidade da transmissão de doenças sexualmente transmissíveis mas impede alguns benefícios que o sexo frequente pode ter a nível imunitário. Um estudo concluiu que pessoas que têm relações sexuais 1 ou 2 vezes por semana apresentam um aumento de 30% na Imunoglobulina A (IgA) comparando com outras que nunca ou raramente praticam sexo. A IgA é uma proteína importante na luta contra infeções, sendo uma das primeiras linhas de ataque a organismos invasores no nosso corpo.
  • Enfraquecimento da relação conjugal 

Não praticar sexo pode ser algo que prejudica a felicidade, intimidade e a segurança de uma relação.  Manter, por exemplo, um casamento sem prática regular de sexo pode diminuir a autoestima de ambos os membros do casal e diminuir os níveis de oxitocina e outras hormonas importantes para a união do mesmo. Por vezes existe o medo da parte de um (ou ambos) membro(s) do casal de que o outro procure outras pessoas para satisfazer as suas necessidades sexuais.

Isto não significa que uma relação com baixa atividade sexual seja necessariamente infeliz. O sexo é uma das expressões de intimidade entre casais. Beijar, andar de mãos dadas ou oferecer presentes espontaneamente são gestos que permitem que se mantenha emocionalmente ligado ao seu parceiro, mesmo que não dispense muito tempo para a prática sexual.

  • Diminuição da líbido
Uma das maneiras mais eficazes de aumentar a baixa líbido é genuinamente tentar e efetivamente fazer mais sexo. Experienciar mais intimidade física e emocional permite que se sinta mais unido ao seu parceiro. Assim, quando deixa de fazer sexo o desejo sexual diminui.

Mais do que aumentar a líbido, a prática regular de sexo potência um maior prazer em cada relação. Durante o ato sexual existe um aumento da circulação sanguínea a nível pélvico bem como, no caso das mulheres, da lubrificação vaginal de forma natural o que favorece uma prática sexual mais prazerosa. 
  • Enfraquecimento das paredes vaginais 

A partir da menopausa o corpo deixa de produzir estrogénios nas mesmas quantidades. Esta diminuição pode levar à atrofia vaginal, condição em que as paredes da vagina se tornam mais finas, secas e mais propensas a rompimentos. Não praticar sexo pode contribuir para esta situação uma vez que a lubrificação extra e o fluxo sanguíneo para esta zona são reduzidos e são importantes na manutenção da saúde do tecido vaginal.
  • Aumento do risco de cancro na próstata 
Homens que deixam de praticar sexo perdem uma fonte de proteção contra patologias na próstata. Um estudo com grande amostra de 2016 concluiu que homens que ejaculam pelo menos 21 vezes por mês reduzem significativamente o risco de cancro na próstata. A razão parece ser o facto de, durante a ejaculação, serem removidos líquidos retidos na próstata e, assim, potenciais agentes infeciosos nela acumulados. Para além do cancro da próstata, a remoção frequente destes fluídos promove também a prevenção da prostatite, uma inflamação da próstata potenciadora de disfunção erétil, disfunções urinárias, entre outros problemas na zona pélvica.
  • Aumento da possibilidade de desenvolver disfunção erétil
Use it or lose it” (use-o ou perde-o): Tal como as articulações, os músculos e outros tecidos no corpo humano, também o pénis poderá progressivamente perder a sua função se não for utilizado com regularidade. A ciência confirma isso mesmo, homens que não praticam sexo ou o fazem apenas esporadicamente tem 2 vezes mais hipóteses de desenvolver disfunção erétil, quando equiparados aos que o fazem pelo menos 1 vez por semana. A explicação prende-se com a importância de manter a elasticidade dos tecidos, a dilatação dos vasos sanguíneos e a força dos músculos do pavimento pélvico – tudo conseguido pela prática frequente de sexo. 
  • Maior dificuldade em adormecer/dormir
Depois da prática sexual com orgasmo o corpo experimenta uma sensação de bem-estar e relaxamento que, por vezes, leva ao adormecimento. Esta sensação resulta da redução dos níveis de cortisol (indutor de stress) e da libertação de prolactina que, de forma combinada, levam o individuo a relaxar e, eventualmente, adormecer. Atualmente devido ao stress e cansaço do dia a dia, ou aos estímulos constantes (telemóveis, televisão) muitos casais perderam o hábito de praticar sexo com regularidade antes de dormir, mesmo que tenham dificuldade em adormecer. Desta forma, e considerando que este é um mecanismo natural indutor do sono, deixar de praticar sexo pode levar ao aparecimento de dificuldades em adormecer.




Em suma, dadas as consequências que a falta de atividade sexual pode provocar na nossa saúde geral, a prática sexual deve ser considerada como um hábito importante num estilo de vida saudável. Sendo uma necessidade fisiológica primária, a abstinência sexual pode prejudicar a saúde psicológica (falta de auto-estima, falta de confiança), a saúde social e conjugal (maior ansiedade e stress, menor ligação afetiva com o parceiro) e a saúde física (menor qualidade do sono, maior probabilidade de aparecimento de doenças da próstata, disfunção erétil, diminuição da imunidade…). 

Para evitar todos estes problemas o melhor é incluir as relações sexuais na rotina, não esquecendo que praticar sexo é a melhor forma de aumentar a líbido.














Jean Gonçalves
Fisioterapeuta
jean.goncalves@clinicadopoder.pt 



Referências:
  1. Brody, S. (2006). Blood pressure reactivity to stress is better for people who recently had penile–vaginal intercourse than for people who had other or no sexual activity. Biological Psychology, 71(2), 214–222. https://doi.org/10.1016/j.biopsycho.2005.03.005
  2. Charnetski, C. J., & Brennan, F. X. (2004). Sexual Frequency and Salivary Immunoglobulin A (IgA). Psychological Reports, 94(3), 839–844. https://doi.org/10.2466/pr0.94.3.839-844
  3. Rider, J. R., Wilson, K. M., Sinnott, J. A., Kelly, R. S., Mucci, L. A., & Giovannucci, E. L. (2016). Ejaculation Frequency and Risk of Prostate Cancer: Updated Results with an Additional Decade of Follow-up. European Urology, 70(6), 974–982. https://doi.org/10.1016/j.eururo.2016.03.027
  4. Koskimäki, J., Shiri, R., Tammela, T., Häkkinen, J., Hakama, M., & Auvinen, A. (2008). Regular Intercourse Protects Against Erectile Dysfunction: Tampere Aging Male Urologic Study. The American Journal of Medicine, 121(7), 592–596. https://doi.org/10.1016/j.amjmed.2008.02.042

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