segunda-feira, 13 de abril de 2020

EXERCÍCIO FÍSICO E SAÚDE SEXUAL MASCULINA

A saúde sexual masculina refere-se a um completo bem-estar físico, mental e social relacionado com a sexualidade. No caso do homem, os problemas mais comuns são os do foro erétil ou ejaculatório. Dentro destes, a disfunção erétil (DE) é uma causa considerável de deterioração da qualidade de vida masculina. Caracteriza-se pela incapacidade de obter e manter uma ereção por um tempo que permita a satisfação sexual do indivíduo e do parceiro. Afeta 1/3 da população masculina, prevalência que aumenta com a idade. Os estudos epidemiológicos concluem que são fatores de risco para a DE: sedentarismo, obesidade, hipertensão, síndrome metabólico, aterosclerose e doenças cardiovasculares, identificados com frequência em pacientes com DE.

Neste artigo vamos perceber qual a influência do exercício físico num dos problemas que mais influencia a saúde sexual masculina, a disfunção erétil. Com base nos mais recentes estudos, duração e tipo de exercício físico que potencia a saúde sexual masculina.

Relação da DE com outras patologias

A DE pode apresentar várias causas: neurológica, endócrina, psicológica, farmacológica ou vascular. Esta última é a causa mais frequente de problemas de ereção, diretamente associada ao estilo de vida. A DE partilha os mesmos fatores de risco que as doenças cardiovasculares e o seu risco relativo é proporcional ao número desses fatores presentes. Atualmente a DE é até considerada uma patologia sinalizadora de outros problemas cardiovasculares mais graves e menos “silenciosos”.

O exercício físico tem sido indicado no tratamento e prevenção de doenças cardiovasculares, pulmonares e musculoesqueléticas. Existe muita evidência científica de que o exercício físico apresenta benefícios nos fatores de risco para a DE e consequentemente, na própria disfunção erétil. Assim sendo, de seguida, apresentamos o efeito da atividade física regular no tratamento de patologias potenciadoras de DE.

Obesidade

O excesso de peso, independentemente de outros fatores de risco, prediz piores índices em diversos domínios da função sexual como o desejo, a ereção, a ejaculação e a satisfação. Os estudos indicam que quanto maior o Índice de Massa Corporal (IMC), menor o grau de satisfação sexual. A redução do peso corporal, seja efetuada por meio de procedimentos cirúrgicos ou através da mudança de estilo de vida (nutrição e atividade física) permite inferir melhorias na satisfação sexual de homens obesos. Um estudo avança inclusive que um homem obeso mórbido é portador dos problemas de disfunção erétil que apenas apresentaria vinte anos mais tarde, se fosse saudável. 

Os estudos com obesos em que existem mudanças do estilo de vida (dieta e exercício) para uma redução do peso corporal demonstram a importância da atividade física nesta mudança. Nos grupos de obesos que realizam apenas mudanças a nível nutricional encontram-se diferenças a nível do perfil lipídico, glicose sanguínea, tensão arterial e circunferência da cintura mas as alterações a nível sexual são ténues. A adição de exercício físico ao plano de emagrecimento levou a que 31% dos indivíduos recuperasse a função sexual.

Tabagismo 

O tabagismo é um dos maiores responsáveis pelas vítimas fatais de doenças cardiovasculares, cancros, acidentes vasculares encefálicos e doenças pulmonares. Este mau hábito tem uma grande influência na função erétil. No geral, os indivíduos fumadores apresentam maior prevalência de DE do que os não fumadores em todos os estudos. Existe ainda uma correlação entre a quantidade de cigarros fumados por dia e os anos de tabagismo e a probabilidade de desenvolver DE. 

A boa notícia é que esta situação é reversível. Deixar de fumar aumenta a líbido e a frequência de relações sexuais. Quando a isto é adicionada a prática regular de exercício físico, denotam-se melhorias ao nível da intensidade do orgasmo e do prazer sexual.

Hipertensão

A hipertensão é outro fator de risco para a DE. Tanto em doentes hipertensos não medicados, como nos medicados, verifica-se uma prevalência significativa de problemas na ereção. O exercício físico é um tratamento natural, não farmacológico para a hipertensão. Em estudos que avaliaram o impacto do exercício físico na hipertensão e, simultaneamente, na função erétil, foi possível encontrar benefícios significativos em ambos os parâmetros em apenas 8 semanas de treino.

Diabetes

A falta de controlo da glicémia está associada ao aparecimento de doenças vasculares periféricas, cerebrais e coronárias. A glicémia descontrolada provoca alterações a nível do endotélio e consequentemente diminuição do lúmen dos vasos sanguíneos (zona onde circula o sangue). Por exemplo, a artéria peniana tem metade do diâmetro da artéria coronária pelo que a DE é mais uma vez um sinal de alerta para outros problemas de maior gravidade. 

Os homens diabéticos apresentam, normalmente, problemas de ereção 10-15 anos antes do que os não portadores desta patologia.

O exercício físico tem um papel fundamental no controlo desta patologia. A prática, 3 a 5 vezes por semana de sessões de 30 a 45 minutos apresenta benefícios como: Melhorar o controlo da glicémia, diminuir a resistência à insulina e controlar o peso corporal.

Importância do exercício físico na qualidade de vida sexual

Apesar dos diversos fatores de risco cardiovascular que influenciam a fisiopatologia da DE, o sedentarismo apresenta-se como um dos mais importantes fatores a ser modificado no tratamento dos problemas de ereção. A prática sistemática de exercício aumenta a capacidade de exercício e reduz o peso corporal, além de potenciar o controlo da hipertensão e diabetes. O exercício vigoroso, como correr pelo menos 3 horas por semana, foi associado a 30% de redução no risco de DE quando comparado ao grupo de sedentários ou com pouca realização de atividade física.



Além do efeito protetor (de prevenção) que o exercício apresenta, também existem correlações fortes e positivas entre a sua prática regular e o tratamento da DE. As investigações encontram ainda benefícios ao nível do aumento da regularidade da prática sexual, da duração do ato sexual e do prazer. 

Os efeitos do exercício físico foram estudados através de estudo randomizado, num estudo com 78 homens sedentários saudáveis, com média de 48 anos, submetidos a nove meses de treino com exercícios supervisionados, três vezes por semana com sessões de 60 minutos de duração. Os indivíduos foram orientados a realizar exercício entre 75-80% da frequência cardíaca (FC) máxima predita pelo teste ergométrico. O grupo-controlo participou em caminhadas e foi orientado a não exceder em 25min da FC de repouso. Os resultados do estudo apresentaram evidências que o aumento no nível de exercício físico melhora o desempenho sexual, o desejo, a excitação, a frequência e a satisfação na atividade sexual, diminuindo a insatisfação e os episódios de disfunção erétil no grupo submetido ao treino mais intenso.

Efeito do exercício na produção de testosterona

A testosterona é uma das hormonas androgénicas com efeito anabólico mais poderosas do corpo humano. Uma das suas funções está relacionada ao crescimento e manutenção da massa muscular, sendo também responsável pela manutenção da líbido e de uma boa função erétil.

Os homens entre os 35-40 anos passam a apresentar um declínio de 1-3% anual na concentração de testosterona, situação conhecida como andropausa.



A partir de vários estudos é possível concluir que existe um efeito positivo na produção e resposta à testosterona durante a realização de exercício com resistência. Desta forma, torna-se importante considerar a inclusão de exercícios de resistência muscular nos planos de treino, para além do treino aeróbio. Estes exercícios deverão contemplar um volume de treino para os músculos considerável e um stress metabólico suficiente, isto é, que o número de repetições se aproxime da falha.


Conclusão

A DE partilha os mesmos fatores de risco modificáveis que as doenças cardiovasculares. A mudança de estilo de vida deve ser estimulada pelos profissionais de saúde, assim como o ganho de consciência da sua importância por parte dos próprios indivíduos. A prevenção requer intervenção precoce por meio de mudanças no hábito de fumar, no controlo do peso e tratamento efetivo da diabetes e hipertensão. O exercício físico tem um efeito positivo comprovado nos fatores de risco e o treino tem um papel preventivo e terapêutico, sendo eficiente tanto para reverter como atenuar o grau de disfunção erétil. 

As recomendações da realização de exercício físico deverão ser personalizadas, tendo em conta o nível de atividade física anterior e eventuais patologias que possam necessitar de precauções ou limitações na sua prática. Pessoas sedentárias irão beneficiar de qualquer forma e volume de exercício praticado. As recomendações da Organização Mundial de Saúde referem que, no mínimo, um adulto deverá realizar 150 minutos por semana de exercício físico aeróbio de intensidade moderada (p.e. caminhada rápida) ou 75 de intensidade vigorosa (p.e. correr). A isto deve acrescer 2 a 3 sessões semanais de reforço muscular com resistência.

Fisioterapeuta Jean Gonçalves

Referências bibliográficas:

1. Vingren JL, Kraemer WJ, Ratamess NA, Anderson JM, Volek JS, Maresh CM. Testosterone Physiology in Resistance Exercise and Training. Sport Med. Dezembro de 2010;40(12):1037–53. 

2. Cardoso FL, Wittkopf PG. Importância do Exercício Físico no Tratamento da Disfunção Erétil. Diabetes. 2011;24(3):180–5. 

3. Gerbild H, Larsen CM, Graugaard C, Areskoug Josefsson K. Physical Activity to Improve Erectile Function: A Systematic Review of Intervention Studies. Sex Med. 2018;6(2):75–89. 

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