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O STRESS CRÓNICO COMPROMETE A SUA LONGEVIDADE

Por acaso já reparou que há pessoas que em dois anos parecem envelhecer dez? Ou que alguém com 30 anos parece ter 50?
Uma mudança para um trabalho demasiado exigente, uma relação conflituosa longa, o luto pela morte de alguém significativo, períodos de desemprego prolongado ou o estar a cuidar de alguém dependente, são alguns dos exemplos de situações de vida que podem desenvolver stresse crónico no nosso organismo.

Ao contrário do stresse agudo, que é sentido durante um curto período de tempo, o stresse crónico resulta de um estado de excitação do nosso organismo que é contínuo e frequente, ao ponto de não permitir que o sistema nervoso autónomo consiga ativar a chamada resposta de relaxamento que é vital para a sua regulação.

Conhecem-se já muitos dos efeitos negativos que o stresse geralmente produz, mas o que a ciência tem vindo cada vez mais a descobrir é até que ponto o stresse crónico impacta sobre a nossa longevidade. E o problema é que este impacto não se resume somente a um aumento de rugas ou cabelos brancos, ele alcança níveis mais profundos do que isso, senão veja:

  • Há prejuízos ao nível genético no ADN com enfraquecimento dos telómeros e das extremidades protectivas que ligam e mantem a comunicação entre as cadeias, conduzindo assim a erros no comportamento das células que afetam directamente a longevidade e a saúde;
  • Surgem perturbações no sistema imunitário e as pessoas ficam muito mais vezes doentes do que o habitual, fazendo com que o corpo se desgaste e demore mais tempo a recuperar. Há por exemplo pessoas saudáveis que ao passarem por processos de luto demonstram várias desregulações imunológicas como o aumento das células assassinas;
  • Mulheres sob stresse crónico carecem de uma hormona chamada Klotho, uma carência que potencia sinais de envelhecimento como o endurecimento das artérias, a perda de músculo e de osso;
  • Há um aumento dos marcadores inflamatórios no organismo aumentando assim o risco cardiovascular e de Alzheimer;
  • Surgem problemas de memória que levam a alterações de comportamento, identidade, depressão, ansiedade, retraimento ou isolamento social, causando mazelas no bem-estar subjectivo da pessoa e fomentando o envelhecimento precoce.
Sabia que ao colocarmos um sapo em água fria e logo a seguir o mudarmos para água quente, ele vai perceber a diferença de temperatura e saltará para fora da água quente? Mas se o colocarmos em água fria e lentamente mas gradualmente formos aumentando a temperatura da água ele vai-se adaptando, adaptando, adaptando, até que acaba por morrer cozido sem se aperceber.
Esta experiência não tem nada de louvável é certo, mas serve como metáfora para compreendermos que a capacidade de nos adaptarmos a ambientes de stresse crónico pode muitas vezes acabar mal e de modo precoce.

Lembre-se que há muitos recursos à sua disposição para cuidar de si como o aprender a relaxar e a ser mais sensível aos sinais e sensações do seu corpo (pode aprender a praticar técnicas como o Focusing ou o Mindfulness), rodear-se de pessoas que gosta, moderar as suas preocupações, alimentar-se bem, ter bons ritmos de sono, caminhar e estimular os seus sentidos na companhia da natureza, não ser tão auto-crítico ou reavaliar a sua vida, as suas relações e trabalho.

Estes podem ser excelentes pontos de partida para não se deixar cozer pelos efeitos do stresse crónico.

João da Fonseca
Psicologia | Psicoterapia | Bem-Estar e Crescimento Pessoal

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