Avançar para o conteúdo principal

OS EFEITOS DO EXCESSO DE PESO NA PRÓSTATA - Parte 2

OBESIDADE E HIPERPLASIA BENIGNA PROSTÁTICA (HBP)

HBP é a condição patológica não-maligna mais comum e a sua prevalência aumenta com a idade. 

De acordo com um estudo epidemiológico recente, a HBP afeta cerca de 70% dos homens com idade entre 60 e 69 anos e 80% com idade igual ou superior a 70 anos em todo o mundo.

O seu diagnóstico histológico está associado à proliferação desregulada de tecido conjuntivo, músculo liso e epitélio glandular dentro da área prostática. A proliferação celular leva a um aumento do volume prostático e ao aumento do tónus do músculo liso estromal. 


A presença de HBP está caracterizada por níveis de IMC elevados, elevada circunferência abdominal, presença de antigénios específicos prostáticos no soro sanguíneo e transtornos urinários. 

A Obesidade Abdominal apresenta efeitos diversos a nível sistémico, aumenta a pressão abdominal que, consequentemente, aumenta a pressão intravesical, exacerbando os sintomas nocivos da próstata.


Outro mecanismo que sofre alterações é o sistema endócrino. O tecido adiposo eleva a expressão de uma enzima, P450 aromatase, que aumenta o rácio estrogénios/androgénios (estradiol/testosterona). Como um ciclo, este processo potencia a deposição de gordura visceral, sendo suprimida a produção de testosterona e os seus percursores – Ciclo Obesidade Hipogonadal. 


OBESIDADE E CANCRO PROSTÁTICO

O processo inflamatório e o stresse oxidativo, intimamente ligados à prostatite e HBP, promovem a inflamação e doença microvascular, que pode potenciar a isquémia e mais stresse oxidativo no ambiente intraprostático. O ambiente de stresse oxidativo desregula frequentemente o programa de morte celular (pelas células Natural Killer) e leva a mutações hiperplásicas e pré-cancerígenas na próstata.

O cancro prostático é o segundo cancro mais frequentemente diagnosticado e a sexta causa mais comum de morte, no homem, em todo o mundo. Além disso é o terceiro cancro mais frequente nos homens (depois do cancro de pulmão e colo-rectal).

Os mecanismos para explicar a associação entre a obesidade e o cancro de próstata [que é dependente da insulina/fator de crescimento semelhante à insulina (Insulin grown factor)  IGF-1] são a alteração das hormonas sexuais e a ativação de adipocinas causadas pela inflamação. 

A insulina por si só não induz a mutações somáticas, no entanto, pelo efeito anabólico, antiapoptótico, e em concentrações exacerbadas (hiperinsulinémicas) promove a divisão celular - mitose. O que significa a promoção de divisão celular de células doentes, correspondendo ao aumento da massa cancerosa ou mutada.

O aumento dos níveis de insulina inibe a síntese de SHBG (Sex Hormone-Binding Globulin). Esta, é uma proteína transportadora que liga especificamente a testosterona circulante e a diidrotestosterona e reduz a sua disponibilidade aos tecidos, correlaciona-se inversamente com o IMC. Em homens obesos, a testosterona total, SHBG, a amplitude de atuação da hormona luteínizante, a hormona luteínizante diurna e testosterona disponível são reduzidas. 

Os estudos mais recentes observam que indivíduos do sexo masculino obesos têm também níveis aumentados de insulina e leptina, caraterísticas da adiposidade o que leva ao maior risco de um cancro prostático pouco diferenciado. 

CONCLUSÃO

Obesidade Abdominal é um dos fatores de risco mais relacionados a doenças prostáticas. O tecido adiposo, principalmente o visceral, é um importante fator de risco para o desenvolvimento de HBP e Cancro Prostático. 

As causas das patologias prostáticas são de caráter multifatorial, sendo inumerados alguns fatores, como: o aumento do rácio estradiol/testosterona; aumento de atividade nervosa simpática e a promoção do processo inflamatório, que contribui para isquémia, stresse oxidativo e ambiente celular prostático favorável para HBP e cancro.


Com um maior conhecimento da patogenia da doença prostática, dos marcadores indicadores de lesão, e de toda a abordagem preventiva e terapêutica, torna-se possível permanecer com qualidade de vida reduzindo estas condições patológicas no homem.




Dra. Inês Silva Pereira,
Nutricionista
ines.pereira@clinicadopoder.pt


Para mais informações e agendamento de consultas siga o link



VIVA COM SAÚDE, PODER E QUALIDADE DE VIDA!

GOSTE E PARTILHE MAIS E MELHOR SAÚDE!



Referências técnicas e científicas:



Mistry, T.; Digby, J.E.; Desai, K.M.; Randeva, H.S. (2007). Obesity and prostate cancer: a role for adipokines, European Urology, 52, p. 46–53. 
Parikesit, D.; Mochtar, C. A.; Umbas, R. & Hamid, A. R. (2015). The impact of obesity towards prostate diseases. Prostate international, 4(1), 1-6.
Vicari, E., La Vignera, S., Castiglione, R., Condorelli, R. A., Vicari, L. O., & Calogero, A. E. (2014). Chronic bacterial prostatitis and irritable bowel syndrome: effectiveness of treatment with rifaximin followed by the probiotic VSL#3. Asian journal of andrology, 16(5), 735-9. 
WHO consultation. Obesity: preventing and managing the global epidemic. Report of a World Health Organization WHO technical report series. 2000; 894:i–xii. 1–253

Comentários

Mensagens populares deste blogue

COVID-19: «INSISTIR E NÃO DESISTIR NA PROTEÇÃO INDIVIDUAL E COLETIVA»

Perante a situação epidemiológica nacional e internacional, o Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos (OM) para a Covid-19 emitiu esta terça-feira um documento com recomendações, salientando que «a pandemia SARS-CoV-2 não terminou e, na presente data, a nível global o número de casos confirmados ultrapassa os 9 milhões e o dos óbitos aproxima-se dos 500.000». Quanto ao nosso país, «a maioria da população permanece suscetível e todos estão em risco de contrair formas graves de doença e eventuais sequelas, cuja evolução da doença ainda não permite clarificar», sublinha a OM. Aliás, refere o organismo, « os números de casos de Covid-19 registados na última semana colocam Portugal com o segundo pior rácio de novas infeções por cada 100 mil habitantes entre os 10 países europeus com mais contágios , apenas atrás da Suécia». Desta forma, considera a OM que «o desconfinamento em curso, deve exigir a todos, inclusive à população supostamente de menor risco, a máxima responsabilidade e a estri...

PANDEMIA MOSTROU A IMPORTÂNCIA DOS SISTEMAS DE SAÚDE DE ACESSO UNIVERSAL

O ex-ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes considera que os países aprenderam com a pandemia a importância de ter sistemas de saúde de acesso universal para responder a situações inesperadas, mas também às necessidades da população. «As lições que se tiram deste período ultrapassam em muito a dimensão nacional, são lições globais porque em grande medida, na maior parte dos países, fica claro o apelo que a Organização Mundial de Saúde tem vindo a fazer há muitos anos de se implementarem sistemas de cobertura geral e de acesso universal», disse o ex-governante em entrevista à agência Lusa. O médico e ex-administrador hospitalar afirmou que na Europa os países que têm respondido melhor à pandemia são os que «tinham uma reserva funcional positiva dos seus sistemas de saúde». «Quando falo de sistemas de saúde não falo apenas da componente de prestação de cuidados, porque nesta matéria é também muito importante a dimensão da saúde pública como componente do sistema que aborda ...

MENOPAUSA: REFLEXÃO

Há muitos medos e mitos em torno da terapia de substituição hormonal (HST). Neste artigo iremos compreender o processo, com base nas experiências de mulheres que utilizaram a terapia assim como em dados das pesquisas disponíveis e com a revisão da literatura. Muitos afirmam que as hormonas são prejudiciais porque são sintéticas. Mas hoje em dia, podem ser usadas apenas hormonas bio idênticas que são semelhantes às existentes no nosso organismo, não só em estrutura como em funções, sendo por isso: mais seguras, mais eficazes e mais fáceis de otimizar. As hormonas foram estudadas suficientemente bem, muito melhor do que qualquer outra substância do nosso corpo. O seu estudo começou nos anos 30 do século passado. Atualmente, a literatura científica conta com dezenas de milhares de publicações sobre este tema. É uma opinião muito comum que, se a natureza inventou a menopausa, que assim a devemos viver. Infelizmente, muitas vezes vemos relutância do médico em interferir no "proce...