Além da testosterona, outra hormona é, também, vital para o
desenvolvimento do sexo masculino e não provém dos testículos.
Muitas vezes a primeira pergunta
que fazem aos pais depois do nascimento de um filho é “parabéns, menina ou
menino?”. Para pais de um em dois mil a quatro mil nascimentos, no entanto, não
há uma resposta fácil. Isto ocorre quando o bebé tem genitália "ambígua",
onde não está claro a que sexo pertence.
Em bebés do sexo masculino, por
muito tempo pensou-se que isto seria causado por problemas ligados à
testosterona – à semelhança dos distúrbios mais comuns, como: testículos não
descidos e pénis malformados, que ocorrem respetivamente em 9% e 1% dos
nascimentos.
Atualmente, sabe-se que a
realidade é um pouco diferente. Segundo uma nova pesquisa outra hormona
conhecida como androsterona - que se origina na placenta e na glândula adrenal do
feto – também é vital para o processo que distingue fetos em meninos. Essas
perceções têm o potencial de fazer uma grande diferença na forma como tratamos
os distúrbios sexuais em bebés do sexo masculino no futuro - e também são
relevantes para todo o debate sobre a identidade masculina e feminina.
Mesmo crianças pequenas sabem que
homens e mulheres geralmente são diferentes. É de conhecimento comum que os
meninos se tornam homens porque os testículos do homem produzem a hormona
“masculina” testosterona e, por sua vez, a testosterona torna os homens
masculinos. Sabemos disso graças aos estudos inovadores do endocrinologista
francês Alfred Jost no início dos anos 50.
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Little boy blue. noBorders - Brayden Howie |
Em diversas etapas na vida dos
meninos ocorrem explosões de testosterona que desempenham um papel fundamental
no seu desenvolvimento como homens. A mais conhecida é a puberdade, na qual os
testículos começam a produzir muito mais testosterona. Isso deixa os garotos
mais peludos, aumenta a genitália e torna a sua voz mais grave (grossa).
As outras etapas são: a
“mini-puberdade”, que ocorre cerca de três meses após o nascimento e que leva a
certas alterações nos testículos e no cérebro; e cerca de três meses de
gestação fetal, quando um menino ainda é um feto no útero.
Embora todas essas explosões de
testosterona sejam, provavelmente, muito importantes para o desenvolvimento de
um macho normal, é a que está presente no útero que afeta se a criança será,
efectivamente, um menino. O que agora está esclarecido é que a testosterona e
os testículos já não ocupam o pódio sozinhos.
Testosterona e super testosterona
A testosterona faz parte de uma
família de hormonas sexuais masculinas chamadas androgénios. Para o
desenvolvimento de um macho normal, a testosterona precisa ser transformada
noutro androgénio chamado dihidrotestosterona ou DHT, uma
"super-testosterona" que é cinco vezes mais potente que o seu primo.
Esta conversão é feita no tecido que irá ser o pénis, juntamente com as outras
partes do corpo que desenvolvem características masculinas.
As consequências do
processo são claras: os meninos que não conseguem transformar a testosterona em
DHT nascem com aparência feminina e só se tornam mais obviamente masculinos na
puberdade.
Estes incluem os Guevedoces na
República Dominicana, que, devido a uma mutação genética, não possuem enzimas
para fazer a conversão de DHT. Estudar essas crianças extraordinárias no início
da década de 1970 levou a pesquisadora americana Julianne Imperato-McGinley a
desenvolver o medicamento finasterida para tratar o cancro da próstata.
Durante anos, esta história foi
considerada completa - a masculinização
era devida à testosterona e à conversão da testosterona em DHT. Até que uma
zoóloga australiana chamada Marilyn Renfree, numa elegante série de estudos nos
anos 2000, publicou a primeira evidência de que as coisas podem não ser tão
simples. O estudo foi realizado em wallabys (marsupial da família dos cangurus),
uma vez que os jovens na bolsa eram facilmente acessíveis para fins
experimentais e imitam muito do período da gravidez em seres humanos e outros
mamíferos placentários.
Renfree descobriu que os genitais dos wallabys machos
jovens produziam DHT mesmo sem
testosterona dos testículos. A única conclusão confiável era que eles convertiam outros androgénios em DHT.
Ficou claro que existem duas maneiras de ter um “sinal
masculino” num feto de wallaby, ambos
necessários para o desenvolvimento sexual normal. O primeiro é pela
testosterona dos testículos. O segundo é através de diferentes androgénios que
também podem ser produzidos por outros órgãos do ser humano, incluindo as
glândulas supra-renais e o fígado do feto e a placenta. Estes processos passaram a ser conhecidos como o caminho “backdoor”.
Mas o mesmo é válido para os
humanos? Mais tarde foi demonstrado que sim, estudando recém-nascidos humanos
masculinos que não eram adequadamente masculinizados; estes apresentavam testículos
não descidos e genitália ambígua, apesar dos testículos produzirem testosterona.
Descobriu-se que eram incapazes de processar os androgénios de "backdoor" porque tinham mutações
nos genes de enzimas fundamentais para o processo de conversão em DHT.
Como evidência adicional de que
ambos os tipos de sinal masculino são essenciais para o desenvolvimento normal
de fetos masculinos humanos, também foi descoberto que fetos cujas placentas
não funcionam adequadamente têm uma probabilidade duas vezes maior de nascer
com testículos não descidos ou com pénis malformados - especialmente se também
nascem anormalmente pequenos (para a idade gestacional).
O que se mostrou neste estudo
Neste estudo, que também envolveu
a Universidade de Glasgow e colaboradores franceses e suecos, foi possível
explicar o porquê. Mediram-se os níveis de diferentes hormonas sexuais
masculinas no sangue de fetos masculinos e femininos, e surpreendentemente
descobriu-se que apenas dois androgénios eram mais elevados em homens do que em
mulheres: testosterona e androsterona.
A relevância para a placenta é que é até 6.000 vezes mais pesada que o feto e
produz grandes quantidades de uma hormona chamada progesterona, que pode ser
convertida em androsterona - assim como o fígado e as glândulas supra-renais do
feto também o podem fazer. Os testículos dos fetos humanos não têm capacidade de fazer essa
conversão.
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Desenvolvimento fetal. Sebastian Kaulitzki |
Também se mostrou que a
testosterona e a androsterona foram convertidas em DHT nos tecidos masculinos
como o pénis. Não só ambos os androgénios são necessários para masculinizar o
feto, como pode haver anormalidades quando os níveis são mais baixos do que o
normal: por exemplo, um bom índice do grau de masculinização é a distância entre
o ânus e os genitais, que se revela menor que o habitual em recém-nascidos com
pénis mal formado.
Pessoas afetadas por distúrbios
do desenvolvimento sexual, incluindo pénis mal formado, podem ter tempos muito
difíceis e enfrentar cirurgias delicadas, terapia hormonal e outros
tratamentos. Cada nova informação sobre como se dá a masculinização, aumenta a
perspetiva de melhorar quando e como esses distúrbios são detetados e tratados
no futuro.
O diagnóstico precoce da redução da função placentária relacionada
com a produção de androgénios no início da gestação pode permitir o tratamento
antes que a formação do pénis esteja completa, evitando a necessidade de
cirurgia corretiva mais tarde na vida.
Uma mensagem a reter sobre este
estudo é que, embora a testosterona e a androsterona sejam de facto mais
elevadas, em média, nos fetos masculinos do que nos femininos, a diferença é
muito pequena. Há também considerável sobreposição entre os níveis mais baixos
em meninos e os níveis mais altos em meninas. Quem está convencido de que a
única escolha para as pessoas é uma escolha binária entre homem ou mulher, não tem
as suas convicções com base na realidade biológica. Crenças preciosas sobre a
supremacia da testosterona e dos testículos no desenvolvimento do sexo masculino
também são obviamente imperfeitas.
Traduzido e adaptado do original: “Move over testosterone,another hormone is also vital for making boys – and it doesn’t come fromthe testes” do The
Conversation, republicado pelo site www.realclearscience.com sob o título “The Other Hormone That's Vital for MakingBoys”.
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