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INCONTINÊNCIA URINÁRIA EM ATLETAS:

causas, prevenção e tratamento



Os benefícios físicos e psicológicos que a prática desportiva proporcionam são amplamente difundidos, no entanto, paradoxalmente, acarreta uma exigência que poderá causar disfunções muito variadas, nomeadamente do foro urogenital, como a incontinência urinária.

As mulheres são mais suscetíveis de sofrerem de incontinência urinária. Isto deve-se à sua anatomia
  • uretra mais curta, 
  • esfíncter uretral mais delgado, 
  • musculatura pélvica menos forte 
Deve-se, também, à gravidez que provoca maior peso sobre o pavimento pélvico e consequente distensão desta zona, sendo que o envelhecimento associado à menopausa é outro fator de risco para esta patologia.

O exercício físico, sobretudo em alta competição ou se praticado com muita regularidade e intensidade, vem adicionar-se às causas de incontinência urinária de esforço. Este tipo de incontinência urinária caracteriza-se pela perda involuntária de urina em situações de esforço (exercício, tossir, espirrar), em que existe um aumento súbito da pressão intra-abdominal. Quando os músculos do pavimento pélvico (que são fundamentais na manutenção da contração do esfíncter uretral e sustentação da bexiga) não possuem força ou tónus suficiente para responderem a estes aumentos da pressão abdominal brusca, ocorre a saída de urina de forma involuntária da bexiga.

Nem todos os desportos ou formas do exercício físico predispõem, da mesma forma, a mulher a sofrer de incontinência urinária. São os desportos de alto impacto, pelo aumento súbito e intenso da pressão intra-abdominal que são mais causadores desta condição em atletas. São exemplos a ginástica, o basquetebol, a corrida, o crossfit, entre outros em que ocorrem impactos e saltos com frequência. Estudos demonstram um risco 9 vezes superior de desenvolvimento de incontinência urinária em atletas de alta performance em modalidades de alto impacto. Em Portugal um estudo realizado em jovens atletas concluiu que 1 em cada 3 sofre de episódios de incontinência e que esta percentagem sobe para 80% em ginastas de alta competição.

Outro fator que contribui ativamente para a incontinência urinária é a desregulação
hormonal que existe em muitas das atletas. Estas são frequentemente amenorreicas (sem menstruação), não existindo produção de estrogénios que atuam na mucosa uretral, diminuindo assim a função uretral e, consequentemente, a capacidade de continência.

Este problema, além de afetar a qualidade de vida das atletas, influencia negativamente o seu desempenho desportivo. Ocorrem, com frequência, sentimentos de vergonha, ansiedade e medo, particularmente, em modalidades onde é utilizada muito pouca roupa.

Embora se afigure como um problema de índole íntima, associado a sentimentos de vergonha, é fundamental prevenir e tratar, quando for caso disto. A incontinência urinária pode ser prevenida e tratada com alto grau de eficácia.

A prevenção faz-se através da implementação de um protocolo de treino dos músculos do pavimento pélvico. Uma vez que as atletas realizam treinos com regularidade, seria fácil a implementação destes exercícios na rotina dos mesmos.

Quando os sinais de incontinência urinária em atletas já se encontram presentes, urge a necessidade de procura de tratamentos. O método de tratamento eficaz contempla: o ensino e realização de exercícios de fortalecimento do pavimento pélvico, terapia laser de baixa intensidade e, eventualmente, medicação.

Os exercícios do pavimento pélvico são um método muito eficaz no tratamento da incontinência urinária de esforço, pois aumentam o tónus e força muscular dos músculos responsáveis pelo controlo do esfíncter uretral, contribuindo para uma resposta eficaz aos aumentos súbitos da pressão intra-abdominal durante o exercício.

A utilização de laser de baixa intensidade é uma ferramenta terapêutica importante nesta patologia, sendo que, através do seu efeito de estimulação da microcirculação local, potencia o aumento do tónus e força musculares da bexiga e do pavimento pélvico, favorecendo o controlo sobre a função do esfíncter uretral e micção.

No caso de serem detetados déficits hormonais, a otimização hormonal, mediante medicação apropriada, verifica-se ser um recurso terapêutico essencial no tratamento desta patologia, dada a importância acima referida das hormonas na estimulação muscular do períneo.

Como é claro, a incontinência urinária é um problema muito frequente entre as jovens atletas, dada a exigência física de algumas modalidades desportivas, além das particularidades da anatomia feminina. Existem soluções que permitem restabelecer o controlo total sobre a bexiga e esfíncter uretral e, consequentemente, aumentar a qualidade de vida e a performance desportiva.

Se chegou até aqui, então, encontra-se preparada para assumir o controlo da sua bexiga. Contacte-nos!!





Jean Gonçalves
Fisioterapeuta
jean.goncalves@clinicadopoder.pt 

Referências bibliográficas:

  1. Vitton V, Baumstarck-Barrau K, Brardjanian S, Caballe I, Bouvier M, Grimaud JC. Impact of high-level sport practice on anal incontinence in a healthy young female population. J Womens Health (Larchmt). 2011;20(5):757-63.
  2. Carvalhais, A., Jorge, R. e BØ, K. Performing high-level sport is strongly associated with urinary incontinence in elite athletes: a comparative study for 372 elite female athletes and 372 controls. British Journal of Sports Medicine, 2017;1-6.
  3. Bø K. Urinary incontinence, pelvic floor dysfunction, exercise and sport. Sports Med. 2004;34(7):451-64.
  4. Caetano AS, Tavares MCGCF, Lopes MHB, Poloni RL. Influência da atividade física na qualidade de vida e auto-imagem de mulheres incontinentes. Rev Bras Med Esporte. 2009;15(2):93-7.
  5. Bernards, A., Berhhamns, B., Slieker-ten Hove, M., Staal, J., de Bie, R., e Hendricks, E. Dutch guidelines for physiotherapy in patients with stress urinary incontinence: an update. International Urogynecology Journal, 2014;25, 171–179.
  6. Araujo MP, Oliveira E, Zucchi EVM, Trevisani VFM, Girão MBC, Sartori MGF. Relação entre incontinência urinária em mulheres atletas corredoras de longa distância e distúrbio alimentar. Rev Assoc Med Bras. 2008;54(2):146-9



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