O que é?
Uretrite consiste na inflamação da mucosa interna da uretra, canal pelo qual a urina sai da bexiga.
![]() |
Figura 1 - Uretrite na mulher. |
Pode ser causada por bactérias, fungos ou vírus, transmitidos maioritariamente por via sexual e, raramente, por trauma. Neisseria gonorrhoeae, bactéria que causa a gonorreia pode espalhar-se pela uretra durante uma relação sexual desprotegida, quando um dos parceiros se encontra infetado. Chlamydia trachomatis, bactéria responsável pela clamídia genital e o vírus Herpes simplex são comummente transmitidos sexualmente e podem também causar uma uretrite. Existem outros organismos que também podem estar na origem de uma uretrite, tais como as Thrichomonas, parasitas microscópicos e a Escherichia coli, bactéria encontrada no trato intestinal.
![]() |
Figura 2 - Uretrite no homem. |
No homem, a causa mais comum de uretrite é a bactéria da gonorreia. A mulher também pode ser afetada por essa mesma bactéria, no entanto a vagina, cérvix, útero, ovários e trompas de Falópio têm maior probabilidade de serem infetados do que a uretra.
A clamídia é também causa comum de muitas uretrites uma vez que é uma doença que pode ser assintomática durante vários dias, logo o seu hospedeiro pode transmiti-la ao parceiro(a) sem ter conhecimento que transporta a bactéria. Milhões de pessoas são portadoras da doença, sendo que a taxa de incidência é superior à da gonorreia. Frequentemente, há associação da clamídia com a ureamicoplasmose, com manifestação subtil, dificultando o diagnóstico. Esta infeção mista da microbiota urogenital conduz a doenças crónicas e, em muitos casos, à infertilidade.
Existem vários tipos de uretrite:
• Uretrite gonocócica: é causada especificamente pela Neisseria gonorrhoeae, bactéria que causa a gonorreia, transmitida por via sexual. É mais comum no homem; na mulher a bactéria tem dificuldade em alcançar o canal urinário, manifestando-se de outra forma (ex.: vulvovaginite). É o tipo de uretrite mais agressivo.
• Uretrite não gonocócica: é causada por outra bactéria ou agente infeccioso que não seja a bactéria da gonorreia (exemplo: Chlamydia trachomatis; Herpes simplex). Pode também surgir devido a traumas, como a introdução de sonda urinária ou outro objeto no canal uretral. Outra causa para este tipo de uretrite é a química, por utilização de espermicidas durante a relação sexual que levam à inflamação da uretra.
• Uretrite psicogênica ou psicossomática: caracteriza-se pela inflamação da uretra sem ação de bactérias ou vírus, sem ocorrência de traumas ou qualquer outra causa externa. Deve-se a razões psicológicas e emocionais. Os sintomas são semelhantes a uma uretrite regular.
Os fatores de risco são os seguintes:
- Relações sexuais sem proteção: a não utilização de preservativo não protege a transmissão das doenças sexualmente transmissíveis (DST`s), logo, ocorre a proliferação de bactérias e vírus pela uretra.
- Uso de cateteres uretrais ou objetos eróticos: inserir objetos pela uretra, seja em meio hospitalar ou caseiro, pode levar a trauma no canal e, consequentemente, a inflamação ou infeção.
Sintomas:
Os sintomas da uretrite dependem do agente que a causou e do género.
Os sintomas mais agressivos são os da uretrite gonocócica, provocada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae.
Na uretrite não gonocócica os sintomas são parecidos com a anterior, mas mais leves.
Entre o homem e a mulher também existem diferenças nos sintomas embora em ambos possa afetar outros órgãos. No homem, o risco maior é nos órgãos próximos, como próstata (prostatite), testículos (orquite) ou epidídimo (epididimite). Na mulher, pode afetar o colo do útero (cervite ou endocervite) ou mesmo levar à DIP (doença inflamatória pélvica), afetando útero, trompas de Falópio e ovários.
Tanto no homem como na mulher, pode afetar a bexiga desencadeando uma cistite.
No homem os sintomas mais comuns são:
- Secreção libertada pela uretra de cheiro intenso e cor amarelo esverdeada;
- Presença de sangue na urina e/ou sémen;
- Micção dolorosa ou desconfortável (disúria);
- Necessidade de urinar com maior frequência;
Figura 3 - Mulher e Homem com sintomas de uretrite. - Sensação de bexiga não esvaziada completamente (após urinar);
- Dor na relação sexual e/ou na ejaculação;
- Prurido, sensibilidade ou edema do pénis ou virilhas.
Na mulher os sintomas mais comuns são:
- Secreção vaginal;
- Dor abdominal e pélvica;
- Dificuldade ao urinar;
- Micção frequente ou urgente;
- Ardor ao urinar;
- Dor na relação sexual;
- Febre e calafrios.
Na uretrite gonocócica, as secreções libertadas são usualmente mais espessas e abundantes, de cor amarelo esverdeada, ao contrário da uretrite não gonocócica, que são mais escassas e esbranquiçadas. Nas uretrites causadas por fungos ou vírus, as secreções são quase inexistentes.
Os sintomas surgem normalmente alguns dias após o contágio.
Diagnóstico:
A uretrite deve ser diagnosticada pelo urologista. O primeiro passo é o exame físico, tanto no homem como na mulher. No homem é examinado o abdómen, o escroto, o pénis e a bexiga para verificar a presença de secreções e edema. Na mulher é examinada a sensibilidade na uretra e na parte inferior do abdómen, assim como a presença de corrimento vaginal.
É importante a realização de exames laboratoriais para que seja identificado o(s) tipo(s) de infeção em causa.
Exemplos disso são:
- Exame à urina (para identificação do agente causador da uretrite)
- Urocultura (para identificação do tipo de bactérias e número de colônias formadas, logo permite o diagnóstico de uma infeção urinária)
- Raspagem uretral (para identificação de doenças sexualmente transmissíveis)
- Cistoscopia (através de um endoscópio introduzido na uretra e bexiga para observação e raspagem, se necessário, de lesões na parede interna da bexiga)
- Ecografia pélvica (na mulher)
Tratamento:
Os objetivos do tratamento são eliminar a causa da infeção, melhorar os sintomas e evitar que a infeção se alastre.
O tratamento consiste na eliminação da infeção. Se a origem é bacteriana, deve recorrer-se à administração de antibióticos. Nas restantes uretrites são indicados fármacos com atividade específica para os microrganismos em causa.
Se for possível, o tratamento deve ser direcionado para o casal, já que um pode ter transmitido ao outro.
Durante o tratamento as relações sexuais devem ser evitadas ou deve recorrer-se ao uso de preservativo.
Pode complementar-se o tratamento com chás (chá verde - reduzir inflamações; chá de camomila - antibacteriano; chá de unha de gato / Uncaria tomentosa - fortalecer o sistema imunitário) e com a ingestão de bastante água.
A terapia a laser de baixa intensidade combinada com a terapia antibacteriana (protocolo misto) demonstrou uma maior taxa de eficácia relativamente à terapia apenas com antibióticos. Foram registadas melhorias após a 5ª/6ª sessão no estado geral dos pacientes. O laser permite um aumento da microcirculação, que leva à redução da inflamação, logo, à redução da dor. Além disso, promove o fortalecimento do sistema imunitário e a melhoria da função de alguns órgãos.
![]() |
Figura 4 - Prevenção de uma uretrite. |
Prevenção:
A forma mais eficaz de prevenir uma uretrite é recorrendo à utilização do preservativo. As DST`s são uma das causas mais frequentes de uretrite, logo o preservativo impede essa transmissão.
Outra medida é a ingestão de bastante água. A hidratação permite a limpeza da uretra com maior frequência, diminuindo o risco de infeção.
Sara Pinto
Fisioterapeuta
Referências Bibliográficas:
- BAXTER, D. G. (1994). Therapeutics lasers. Theory and Practice. Churchill Livingstone, p.259
- BROCK, G. et al. (1997). The Anatomy of Tunica Albuginea in the Normal Penis and Peyronie Disease. Br. J. Urol., p.276-281
- KARU, T. I. (1989). Photobiology of Low-power laser therapy. Harwood Arcad Publishers, p.187
- ORLAND, S. M. et al. (1995). Prostatitis, Prostatosis and Prostatodynia. Urology. Vol. 25, p.439-460
- HOOTON, T. M. et al. (2013). Voided Midstream Urine Culture and Acute Cystitis in Premenopausal Women. N. Engl. J. Med., p.1883-1891
- GAMALEIA, N. F. (1972). Laser na Prática Clínica e na Investigação Médica. Meditsina, p. 232
- Infeção do Trato Urinário - Uretrite. Disponível em https://www.msdmanuals.com/pt
Comentários
Enviar um comentário